Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), toda a população mundial está vulnerável à infecção pelo coronavírus. No entanto, pessoas com mais de 60 anos, sem exceção, estão no grupo de risco da covid-19 e, caso infectadas, têm chance maior de desenvolver complicações que podem levar à morte.
“Isso não tem a ver com o idoso ser saudável ou não, como se alimenta ou se faz exercícios: depois dos 60 anos o sistema imunológico vai ficando gradualmente mais comprometido, por isso pessoas acima dessa idade estão no grupo de risco”, explica a geriatra Maisa Kairalla, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Apesar do risco, muitas famílias ainda encontram dificuldades de manter os idosos em casa para protegê-los. A rotina de quarentena não é nada fácil, especialmente quando o idoso não concorda com o isolamento. O VivaBem conversou com especialistas sobre as dificuldades mais comuns na hora de negociar a rotina com os mais velhos e enumerou algumas atitudes que prejudicam o diálogo.
1. Mentir
Inventar histórias —como dizer que o idoso será preso ou multado se sair na rua — pode parecer uma solução fácil, mas tem consequências psicológicas muito negativas, segundo a psicóloga especialista em gerontologia Valmari Aranha, professora no Centro Universitário São Camilo. “A mentira pode causar perda de confiança: o idoso que é enganado hoje pode duvidar, futuramente, da comunicação de um diagnóstico, por exemplo”, diz. É importante entender que, nesse momento em que somos bombardeados por informações de todos os lados, não expor o idoso a histórias falsas também é uma forma de cuidado.
2. Tratá-lo como incapaz
“Tirando exceções, como demência, o idoso é um cidadão como qualquer outro, com condições cognitivas para ser informado e decidir sobre o melhor para si. Idoso não é criança. Existem pessoas de todas as idades que são ‘teimosas'”, diz Kairalla. Abordar o isolamento não apenas como uma maneira de proteger a si mesmo, mas também de contribuir para a saúde pública e toda a família, é uma maneira de mostrar que o idoso não está passivo diante da pandemia, que também tem responsabilidade nesse batalha. “O isolamento é uma escolha em prol da vida, da própria, das pessoas queridas e da sociedade. Encarar como uma escolha consciente em vez de obrigação é uma forma de preservar a autonomia”, explica Aranha.
3. Poupá-lo da realidade
Na tentativa de não querer impressionar o idoso ou de evitar que ele fique ansioso com as notícias, muitos tentam ocultar a gravidade da pandemia. No entanto, para a própria segurança da pessoa, é importante que ela saiba os motivos do isolamento e o real risco de morte caso o sistema de saúde não consiga atender todos os casos que precisem de internação. “Devemos desmistificar a ideia de que os idosos são frágeis. Muitos são experientes, já vivenciaram perdas, têm muito mais recursos do que imaginamos para lidar com a realidade”, diz Valmari. Entenda que ser realista não significa ser alarmista. E, mais uma vez, o idoso precisa encontrar coerência entre o que ouve da família e o que vê pela televisão, por exemplo.
4. Repassar notícias que estimulam pânico
É possível falar sobre hábitos de proteção e explicar por que cuidados são necessários nesse momento sem cair no excesso de informação. Por exemplo: revelar que em diversos países as pessoas estão resguardadas em sua casa para não ficarem doentes é uma notícia que pode fazer com que o idoso entenda a gravidade da situação. Você não precisa gerar pânico e comentar sobre os corpos sendo empilhados na Itália para convencê-lo a ficar em casa. Além disso, seja em casa, seja por telefone, é possível conversar sobre outros assuntos além da pandemia. Falar sobre o dia, contar o que está fazendo na quarentena e dividir pensamentos são formas de mostrar proximidade.
5. Sugerir tarefas improdutivas para “ocupar” o idoso
Tentar entreter o idoso com tarefas inúteis para passar o tempo dentro de casa pode contribuir para deixá-lo mais ansioso. “Incentive-o a cuidar de plantas ou realizar tarefas domésticas que realmente são necessárias. Jogos de tabuleiro que estimulam a mente também são alternativas melhores que apenas ver televisão ou fazer tarefas que ele percebe que não adiantam, como dobrar roupas esquecidas no armário”, diz Aranha. Nesse contexto, caso a família esteja dividindo espaço, pode ser a chance de aprender com o idoso a costurar, preparar uma receita de família ou ouvir uma história.
6. Confundir isolamento com abandono
“Não poder entrar em contato próximo com os filhos e netos não significa não vê-los ou não conversar com eles. As pessoas podem e devem sempre se falar sempre por telefone e aplicativos e, se possível, até mesmo se verem à distância”, diz Kairalla. Para a geriatra, é importante que o idoso entenda que o distanciamento não significa que será excluído da rotina familiar e social. “O contato com crianças, mesmo sem sintomas, é uma forma importante de transmissão, por isso é realmente importante limitar contatos físicos no momento —e explicar bem o motivo desse afastamento.”
Fonte: www.uol.com.br
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